Conferência Diplomacia e Saúde Global destaca geopolítica e cooperação internacional

Conferência Diplomacia e Saúde Global destaca geopolítica e cooperação internacional

Numa conjuntura de incerteza, marcada pela recente tomada de posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos da América (EUA), a diplomacia adquire um papel de destaque na saúde global e no imprevisível futuro mundial em outras áreas de relevo, como a economia, a sustentabilidade ou o ambiente.

Foi neste contexto que o Fórum Saúde XXI promoveu a Conferência Diplomacia e Saúde Global, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade NOVA de Lisboa, que reuniu especialistas para debater esta temática de enorme relevância na geopolítica.

A conferência contou com a presença dos embaixadores António Martins da Cruz e Luís de Almeida Sampaio e do Diretor da Direção de Coordenação das Relações Internacionais da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde, Francisco Pavão, como oradores.

Adalberto Campos Fernandes refere “início de uma nova «desordem» mundial”

O Chairman do Fórum Saúde XXI e antigo Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, comentou a sessão, indicando que esta “ganhou acuidade devido à tomada de posse do novo Presidente dos EUA e da intenção de saída do país da Organização Mundial de Saúde (OMS)”, o que revela que “estamos no início de uma nova «desordem» mundial.”

A Diretora da ENSP, Sónia Dias, abriu a conferência destacando o tema abordado e o seu papel na promoção “não apenas da saúde, mas do desenvolvimento económico e social, sendo um pilar da sustentabilidade global.” Acrescentou ainda que “a diplomacia em saúde evolui para um mecanismo mais forte que deve ser sustentado pela inovação e cooperação.”

O debate foi moderado pela Presidente do Fórum Saúde XXI, Andrea Lima, que falou de alguns temas cruciais que marcam a atualidade, como as “migrações e a necessidade de assegurarmos cuidados de saúde para todos e garantir que este seja um direito fundamental.”

Saída dos EUA da OMS representa corte de 22% das contribuições

O embaixador António Martins da Cruz começou por distinguir “política externa”, que é a defesa dos interesses de um país, e “diplomacia”, que é encontrar a melhor forma de executar a política externa, conforme a situação internacional.” Destacou ainda que “os equilíbrios de poder entre países dominam a geopolítica” e falou da saída dos EUA da OMS, que pode resultar em implicações muito significativas, uma vez que o país da América do Norte é o maior contribuinte da organização, com 22% das contribuições, o equivalente a mais de mil milhões de euros.

O embaixador Luís de Almeida Sampaio realçou a posição política e geográfica de Portugal, que “oferece uma perceção global exclusiva”, ao incluir todos os países de língua portuguesa: “Por Trump representar um desafio, cabe aos diplomatas aprofundar e desenvolver os laços e relações com diferentes povos e culturas.” No final da sua intervenção, confessou uma perplexidade acerca do sistema de saúde português: “Porque os exemplos externos não são aproveitados como benchmarking para resolver problemas do Serviço Nacional de Saúde?”

Francisco Pavão foi o último orador a intervir na Conferência Diplomacia e Saúde Global, destacando a necessidade de “renovar e atualizar acordos antigos e receber e formar médicos com países parceiros”, como os presentes de língua portuguesa em África, Brasil ou Timor-Leste. Além disso, salientou a importância de “formar profissionais de saúde especialistas em relações internacionais e diplomacia, promovendo a saúde global.”

A Conferência Diplomacia e Saúde Global concluiu-se com algumas perguntas da plateia, como o papel de Portugal como facilitador entre o BRICS e o G7, o que acontecerá às instituições de saúde dos EUA no contexto atual, se a União Europeia deve suprir o lugar dos EUA na OMS ou a globalização.

Vale a pena referir que este tema e muitos outros relacionados com a saúde mundial estarão em debate no Cascais International Health Forum, cimeira que vai decorrer nos dias 20 e 21 de março no Centro de Congressos do Estoril, em Cascais.

Leia também: Cascais International Health Forum 2025: Transformando a Saúde num Mundo Globalizado

Scroll to Top
×