Os rastreios de saúde visual são mesmo necessários?

Os rastreios de saúde visual são mesmo necessários?

A resposta é sim para dois rastreios. São necessários e indispensáveis para preservar a saúde ocular.

Há 2 rastreios oftalmológicos em Portugal promovidos pelo Serviço Nacional de Saúde como medidas de saúde publica: O rastreio de saúde visual infantil e o rastreio da retinopatia diabética. Ambos são medidas de saúde publica, centrados no médico de família. De facto, é o médico de família que orienta as crianças e os adultos para cada um destes dois rastreios. Esta característica dos rastreios de saúde ocular – centrados no médico de família – é fundamental e permite diferenciar de eventuais campanhas publicitárias e com fins comerciais, muitas vezes apelidadas também de rastreios.

Porque é importante fazer o rastreio da retinopatia diabética?

Porque a retinopatia diabética, que surge nas pessoas com diabetes, é a primeira causa de perda grave de visão e de cegueira em Portugal, entre os 21 e os 65 anos. E porque com o rastreio podemos evitar esta perda grave de visão e cegueira em mais de 90% dos casos.

 O que é a retinopatia diabética?

A retinopatia diabética é uma das complicações da diabetes, provocada por alterações dos vasos sanguíneos da retina. A retina é a parte do nosso olho que capta o estímulo visual para ser levado ao cérebro. Quando está afetada pela retinopatia diabética pode levar à perda de visão ou até mesmo cegueira. A doença evolui lentamente e de forma silenciosa. Quando há perda de visão já é tarde. O ideal é prevenir e para isso o rastreio é muito importante. Mas além do rastreio,  a retinopatia diabética pode ser prevenida ou pode adiar-se significativamente a sua progressão, mantendo os níveis de açúcar no sangue controlados, a pressão arterial controlada e os valores de colesterol sanguíneo dentro dos parâmetros normais. A alimentação saudável e a prática do exercício físico são também fatores determinantes para a sua prevenção.

Quando deve ser feito o rastreio da retinopatia diabética?

O rastreio da retinopatia diabética é destinado a todas pessoas com idade igual ou superior a 12 anos, que tenham sido diagnosticadas com diabetes tipo 1 há 5 ou mais anos ou com diabetes tipo 2 no ano de diagnóstico e que estejam inscritas numa unidade de cuidados de saúde primários.

Há pessoas com diagnóstico de diabetes que, tendo diabetes, não precisam de fazer o rastreio? A resposta é sim. Os diabéticos que já estão a ser seguidos em consulta pelo médico Oftalmologista, as pessoas que fizeram rastreio há menos de 1 ano, as mulheres com diabetes gestacional e as pessoas cegas dos 2 olhos, não precisam de fazer o rastreio.

Em que consiste o rastreio?

É um processo muito simples. Consiste na realização de um exame à retina, denominado retinografia, que permite observar e captar duas fotografias em cada olho. Trata-se de um procedimento simples, não invasivo nem doloroso, e que tem a duração de cerca de 2 a 3 minutos.  Como inovação poderá incluir também um outro exame, o OCT (Tomografia de Coerência Ótica) que permite melhorar a seleção dos casos que precisam de tratamento. Os exames são efetuados por um técnico treinado, não necessitam de dilatação da pupila e não interferem com a visão. São depois avaliados em centros de leitura de imagem e os casos positivos (com lesões) são orientados para tratamento nas Unidades Hospitalares.

Necessito repetir o rastreio?

Sim. Não havendo lesões, o rastreio é repetido a cada 2 anos. Havendo lesões que não necessitam de tratamento, o rastreio é repetido antes dos 2 anos. Quando as pessoas são orientadas para tratamento deixam de fazer rastreio.

E o que é o rastreio de saúde visual infantil?

O rastreio de saúde visual infantil é uma medida de saúde pública, promovida pelo Serviço Nacional de Saúde, que permite detetar atempadamente problemas de visão em crianças dos 2 e 4-5 anos de idade sem sinais ou sintomas.  De acordo com a Norma da DGS, o Rastreio de Saúde Visual Infantil (RSVI) é sistemático e de base populacional e tem por objetivo identificar todas as crianças com alterações oftalmológicas capazes de provocar ambliopia, também conhecida como “olho preguiçoso”, e que se não for identificado pode fazer com que a criança fique a ver mal para o resto da vida. A prevalência da ambliopia em países desenvolvidos varia entre 1 a 5%.

Que crianças devem fazer o rastreio de saúde visual infantil?

São rastreadas todas as crianças no semestre em que completam dois anos de idade, e num segundo momento, são também rastreadas no semestre em que completam quatro anos de idade todas as crianças que: a) não realizaram rastreio aos dois anos de idade; b) tiveram rastreio negativo aos dois anos de idade;

Há crianças que não precisam de fazer o rastreio? Sim. As crianças acompanhadas em consulta por médico Oftalmologista com ou sem tratamento.

Em que consiste o rastreio?

O método de rastreio a utilizar, assenta numa tecnologia inovadora e inócua de foto-rastreio, que permite identificar os erros refrativos e outras alterações com potencial para provocarem ambliopia. As imagens são depois lidas por um médico Oftalmologista e os casos que apresentam alterações são chamados a consulta e tratamento.

Estes dois rastreios podem fazer toda a diferença na saúde ocular das crianças e dos adultos. Estão acessíveis a todas as pessoas com indicação, são gratuitos, inócuos e significam um ganho enorme em saúde para a nossa população.

Dr. Rufino Silva
Prof. da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Médico Oftalmologista da ULS de Coimbra e Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

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