Longevidade: em busca do Santo Graal – sonho ou pesadelo?

Longevidade: em busca do Santo Graal – sonho ou pesadelo?

A longevidade é um tema que desperta cada vez mais interesse na nossa sociedade, especialmente à medida que os avanços da medicina e da tecnologia nos permitem viver mais anos.

Em Portugal, a esperança média de vida tem vindo a aumentar de forma significativa. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a esperança de vida à nascença em 2022 era de 81 anos, sendo que as mulheres vivem, em média, até aos 85 anos e os homens até aos 79 anos.

Contudo, esta nova realidade não vem sem desafios. Estamos a entrar numa era em que, apesar de vivermos mais, também estamos a enfrentar um aumento das doenças degenerativas e crónicas. Assim, a questão que se coloca é: a longevidade é um sonho ou um pesadelo?

Por um lado, o aumento da esperança média de vida é frequentemente celebrado como um grande triunfo da medicina moderna. Contudo, a realidade é que muitos desses anos adicionais podem ser acompanhados por uma série de problemas de saúde, que vão desde doenças cardiovasculares até condições neurodegenerativas como o Alzheimer. Este panorama levanta preocupações sobre a qualidade de vida que se pode esperar durante a velhice.

Segundo Isabel Santana, coordenadora da Consulta de Demência do Serviço de Neurologia dos HUC, ­estima-se que cerca de 5% dos indivíduos com mais de 65 anos sofram de demência, definindo-se um perfil de incremento exponencial com a idade. Este número sublinha a urgência de enfrentarmos os desafios que acompanham a longevidade.

O impacto socioeconómico desta situação é significativo. À medida que a população envelhece, os sistemas de saúde enfrentam uma pressão crescente. O aumento das despesas com cuidados de saúde pode levar a um aumento das desigualdades sociais, onde apenas alguns têm acesso a tratamentos adequados. Os jovens, que um dia serão os cuidadores desta população idosa, devem ser educados sobre a importância de um envelhecimento ativo e saudável, não apenas para si próprios, mas também para a comunidade em que estão inseridos.

Neste contexto, a família e a comunidade desempenham um papel fundamental no bem-estar dos idosos. O suporte emocional e físico que as relações familiares e comunitárias proporcionam é crucial para enfrentar os desafios que vêm com o envelhecimento. A solidão e o isolamento são problemas comuns entre os mais velhos, e a construção de uma rede de apoio robusta pode fazer toda a diferença na qualidade de vida.

Um aspeto frequentemente negligenciado é a importância de continuarmos ativos e produtivos mesmo após a reforma. Os idosos têm muito a oferecer à sociedade e a sua experiência e sabedoria são recursos inestimáveis. Permanecer envolvidos em atividades que lhes dêem um propósito de vida não só beneficia os próprios, mas também enriquece a comunidade. A interação entre as gerações, onde os mais velhos partilham conhecimentos e experiências com os jovens, pode ser uma fonte de inspiração e aprendizado mútuo. Este intercâmbio gera um sentido de pertença e ajuda a combater a sensação de inutilidade que muitos sentem após a reforma.

Longevidade e inovação tecnológica

A inovação tecnológica também surge como uma aliada nesta luta. Existem vários avanços tecnológicos que têm contribuído significativamente para melhorar a qualidade de vida dos mais velhos:

  • Dispositivos de monitorização de saúde: Equipamentos como monitores de pressão arterial e dispositivos de rastreio cardíaco permitem que os idosos acompanhem a sua saúde em casa, facilitando a deteção precoce de problemas.
  • Tecnologia de telemedicina: Plataformas de telemedicina permitem que os idosos consultem médicos e especialistas remotamente, reduzindo a necessidade de deslocações.
  • Assistentes virtuais: Tecnologias como Amazon Echo e Google Home ajudam os idosos nas suas rotinas diárias, lembrando-lhes de tomar medicamentos e agendar compromissos.
  • Sensores de queda: Dispositivos que detetam quedas e alertam automaticamente familiares ou serviços de emergência proporcionam segurança e tranquilidade.
  • Tecnologia wearable: Relógios e pulseiras inteligentes monitorizam a atividade física e a saúde, incentivando os idosos a manterem-se ativos.
  • Aplicações de saúde: Aplicações móveis ajudam os idosos a monitorizar a sua alimentação e atividade física, promovendo hábitos saudáveis.
  • Robôs de companhia: Robôs projetados para interagir socialmente com os idosos podem ajudar a combater a solidão.
  • Sistemas de alerta de emergência: Dispositivos que permitem que os idosos acionem rapidamente um alerta em caso de emergência asseguram assistência rápida.
  • Tecnologia de casa inteligente: Dispositivos que automatizam funções domésticas tornam a vida diária mais fácil e segura.
  • Plataformas de conexão social: Redes sociais e aplicativos de mensagens ajudam os mais velhos a manter-se conectados com amigos e familiares.

Contudo, para que a longevidade se torne um verdadeiro Santo Graal, é imperativo que haja uma mudança de mentalidade. A educação dos jovens para um envelhecimento ativo é essencial. Devemos prepará-los não apenas para cuidarem de si próprios, mas também para serem agentes de mudança nas suas comunidades, promovendo um ambiente que valorize e respeite os mais velhos.

Em síntese, a longevidade deve ser encarada como uma oportunidade, mas também como um desafio significativo. Para que a busca por uma vida mais longa não se transforme num pesadelo, precisamos de uma abordagem integrada que envolva a família, a comunidade, a educação e a tecnologia. Ao fazê-lo, poderemos assegurar que os anos adicionais sejam vividos com dignidade, saúde e felicidade, transformando a longevidade num verdadeiro sonho coletivo, onde todos, independentemente da idade, têm um papel relevante a desempenhar.

Andrea Lima
Presidente do Fórum Saúde XXI

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