A educação para a saúde, ou educação terapêutica, é um elemento essencial no tratamento das doenças crónicas e em particular da diabetes.
A vida de uma pessoa com diabetes implica tomar diariamente um número significativo de decisões com o objectivo de alcançar uma boa qualidade de vida. Que comer? Que insulina administrar? Que exercício fazer e quando? Sem uma boa educação para a diabetes estamos perdidos no meio da escuridão sem rumo nem caminho para uma boa decisão.
Perguntas semelhantes surgem diariamente na vida de qualquer doente crónico. Estas perguntas só podem ser respondidas pela própria pessoa com base nos conhecimentos adquiridos. Imaginem por um momento todos os doentes crónicos a contactarem os técnicos de saúde de cada vez que têm que tomar uma decisão relativa à sua doença crónica. Seguramente que seria o caos instalado.
Tenho diabetes há 35 anos e devo dizer que é a educação terapêutica que tem feito a diferença na minha vida diária, é este elemento que em inúmeras ocasiões me tem dado confiança para enfrentar as mais diversas situações.
É portanto urgente uma aposta clara na educação terapêutica, em termos de investimento em tempo e valorização financeira. É necessário haver uma comparticipação deste tipo de actividade sendo um dado adquirido que é impossível fazer um bom trabalho neste campo em consultas de 5 minutos. É preciso mudar atitudes e mentalidades. Como é possível que o Estado Português gaste menos do que 3% do orçamento da saúde com prevenção, sendo este montante quase todo consumido com o programa nacional de vacinação?
Todo o investimento em prevenção é recuperado nas poupanças obtidas pelo melhor controlo da doença por parte dos portadores de doenças crónicas que vai diminuir os custos directos e indirectos tais como absentismo, reformas antecipadas e perda de produtividade, no que resultam em oportunidades perdidas para o
desenvolvimento económico. No caso particular da diabetes, diversos e variados estudos científicos demonstraram que o bom controlo metabólico da diabetes permite diminuir ou retardar o surgimento desta complicações tais como lesões nos tecidos em diversos órgãos, rins, olhos, nervos periféricos e sistema vascular. Sabemos que a diabetes é a principal causa não traumática de cegueira, insuficiência renal, a titulo de exemplo de referir que cerca de 30% das pessoas em hemodiálise têm diabetes, e amputação dos membros inferiores, sendo uma das principais causas para as doenças cardiovasculares.
Em Portugal os custos directos com a diabetes correspondem a cerca de 10% da despesa da saúde em Portugal. Mais de metade desta quantia está associada a hospitalizações e tratamento das complicações da diabetes. Estes custos poderiam ser drasticamente diminuídos com uma aposta clara na prevenção destas complicações, as quais causam também um significativo sofrimento humano nas pessoas com diabetes e seus familiares. Não é possível continuar a aceitar que se continuem a fazer amputações por falta de prevenção nesta área. Quantos centros prestadores de cuidados de saúde têm uma consulta de pé diabético? E de rastreio da retinopatia diabética?
A educação pelos pares é também um elo forte e crucial neste campo. A partilha de experiências, a vivência conjunta de situações, o falar na primeira pessoa e a forma como a mensagem é recebida quando o emissor fala na primeira pessoa é algo que deve ser valorizado e promovido. Esta educação pelos pares é um complemento excepcional ao papel dos técnicos de saúde. É também altura de as associações de doentes serem encaradas como parceiros na gestão da saúde em Portugal. Se queremos sistemas de saúde efectivamente centrados nas pessoas temos que definitivamente dar voz activa às suas associações, por exemplo em grupos de trabalho na DGS, por exemplo integrando os conselhos de comunidade dos ACES e dos hospitais.
Uma palavra muito especial para a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a Associação de pessoas com diabetes mais antiga do Mundo e que em 2016 celebra o 90o Aniversário. Esta Associação foi pioneira na educação terapêutica, desde o seu inicio que houve um significativo cuidado em dar aos doentes uma sólida educação para a saúde. Já em 1926 o fundador da APDP, Dr. Ernesto Roma, tinha a clara noção de que: “Mais do que em qualquer outra doença o médico será aqui educador. A sua função é menos tratar o doente do que ensiná-lo
a tratar-se ele próprio. É necessário que lhe explique as ideias fundamentais sobre a fisiologia da doença para que o paciente entenda a terapia. (Dr. Ernesto Roma)”. Este cuidado percorreu toda a história da Instituição, sendo neste momento a APDP o primeiro Centro de Educação reconhecido pela Federação Mundial da Diabetes (IDF) e um Centro Médico de excelência com reconhecimento mundial.