A transformação da saúde oral e a sua importância na qualidade de vida

A transformação da saúde oral e a sua importância na qualidade de vida

Nos últimos anos, Portugal tem assistido a uma transformação significativa na área da saúde oral, impulsionada pela integração de novas tecnologias digitais. Esta mudança tem revolucionado a prática clínica e a experiência dos pacientes. Trata-se de uma oportunidade para redefinir os cuidados dentários e melhorar o bem-estar geral da população, para além das melhorias técnicas.

A saúde oral desempenha um papel central na qualidade de vida. Muitas vezes desvalorizada, a condição dos dentes e gengivas pode ter repercussões sérias na saúde global. Problemas dentários não tratados podem levar a complicações que ultrapassam a cavidade oral, afetando a digestão, a respiração e até o controlo de doenças crónicas, como a diabetes. Assim, a promoção da saúde oral deve ser uma prioridade nas políticas de saúde pública, com o intuito de prevenir outras condições médicas associadas a uma má saúde oral.

Portugal tem dado passos importantes na integração dos cuidados de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde (SNS), alargando o acesso a tratamentos dentários essenciais. Esta medida reconhece que, sem uma saúde oral adequada, a qualidade de vida da população pode ser gravemente comprometida.

De acordo com o Barómetro da Saúde Oral de 2023, os dados revelam que 22,8% da população portuguesa têm seis ou mais dentes em falta, dos quais 6,2% apresentam edentulismo total (perda de todos os dentes). Entre a população com seis ou mais dentes em falta, 18,2% dos portugueses não possuem qualquer substituição, enquanto 72,3% utilizam próteses e 14,6% têm dentes fixos. Estes números evidenciam a necessidade de continuar a focar-se na reabilitação oral, dado que a falta de substituição dentária, que afeta quase um em cada cinco portugueses, pode comprometer significativamente a função mastigatória e a qualidade de vida.

Ainda de acordo com o Barómetro de Saúde Oral 2023, no que diz respeito ao acesso aos cuidados de saúde oral, 66,8% da população portuguesa desconhece que o SNS disponibiliza serviços de medicina dentária. Entre os que têm conhecimento dessa oferta, apenas 5,2% recorreram ao SNS em 2023 para tratar algum problema dentário, demonstrando que ainda há uma subutilização destes serviços públicos. Esta disparidade pode ser explicada pela falta de informação ou pela acessibilidade limitada, aspetos que precisam de ser melhorados para garantir uma maior inclusão nos cuidados dentários públicos.

O foco em populações vulneráveis é fundamental. Para os idosos, por exemplo, que de acordo com a Pordata representam 23,7% da população nacional, uma má saúde oral pode agravar doenças preexistentes, dificultar a alimentação e até o uso de medicamentos. Para as famílias de baixos rendimentos, o acesso a cuidados dentários muitas vezes fica em segundo plano devido a dificuldades financeiras. Assim, é necessário um esforço contínuo para garantir que estas populações não sejam deixadas para trás. A inclusão da saúde oral nas políticas públicas e nos programas de assistência social é um passo essencial, mas é preciso fazer mais para tornar os cuidados acessíveis a toda a população.

É igualmente importante que os médicos dentistas, os profissionais de saúde e o público em geral reconheçam a ligação entre a saúde oral e a saúde geral. Uma abordagem holística à saúde deve integrar os cuidados dentários como parte central do bem-estar global, permitindo que as pessoas vivam vidas mais longas e saudáveis.

Carlos Ribeiro Ferreira

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