Andrea Lima: “Temos de afastar a ideologia da saúde e pensar nas pessoas”

Andrea Lima, presidente do Fórum Saúde XXI, defende reformas estruturais e foco nas pessoas para um sistema de saúde mais justo.
Andrea Lima: “Temos de afastar a ideologia da saúde e pensar nas pessoas”

Andrea Lima, presidente do Fórum Saúde XXI, foi convidada do programa “Contra-Corrente” da Rádio Observador, onde analisou a recondução de Ana Paula Martins como Ministra da Saúde e refletiu sobre os desafios estruturais do setor em Portugal.

Durante a sua intervenção, Andrea Lima começou por afirmar que “não ficou surpreendida” com a continuidade da ministra Ana Paula Martins, considerando essa recondução uma “boa escolha” e uma oportunidade para dar continuidade ao trabalho iniciado no anterior mandato. “A saúde é uma pasta difícil e exigente, e um ano é claramente insuficiente para implementar reformas com impacto. É essencial garantir tempo para as concretizar e colher resultados”.

A presidente do Fórum Saúde XXI lamentou a curta duração dos ciclos políticos em Portugal, afirmando que “quatro anos já seriam pouco para reformar a saúde, quanto mais um”. Para Andrea Lima, a transformação do sistema de saúde exige planeamento a longo prazo, estabilidade e coragem política para enfrentar os verdadeiros desafios estruturais do setor.

“O cidadão quer ser bem tratado em tempo útil, seja no público ou no privado”

Um dos temas centrais da entrevista foi a defesa das parcerias público-privadas (PPP) na saúde, que a convidada considera fundamentais para melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados. “As PPP deram bons resultados e foram interrompidas por motivos ideológicos, não por falta de eficácia”. Referiu os hospitais de Braga, Loures e Cascais como exemplos de sucesso, destacando que estes modelos contribuíram para a redução das listas de espera, melhoria das infraestruturas e conforto dos doentes.

Andrea Lima defendeu a necessidade de uma abordagem pragmática: “O cidadão quer ser bem tratado em tempo útil, independentemente de ser no SNS ou no setor privado. Temos de afastar a ideologia da saúde e pensar nas pessoas”.

Margem Sul: investimento crescente, acesso limitado

Andrea Lima destacou a situação crítica da Margem Sul, que considera ser um reflexo dos problemas nacionais de acesso. “Apesar do aumento contínuo do investimento em saúde, Portugal vive hoje um paradoxo: nunca foi tão difícil aceder a cuidados de saúde com qualidade e em tempo útil”. As dificuldades são particularmente evidentes nas urgências, mas também nas consultas especializadas.

A líder associativa defende a concentração de especialidades em hospitais de referência na região, como forma de garantir centros de excelência, com equipas estáveis e experientes. “O que uma grávida precisa é de saber com antecedência onde vai ser atendida com segurança. A instabilidade baralha, aumenta o stress e compromete a qualidade dos cuidados”.

“A promoção da saúde é o nosso propósito no Fórum Saúde XXI”

Andrea Lima colocou também em destaque a missão do Fórum Saúde XXI, lembrando que a organização tem como propósito a promoção da saúde e a prevenção da doença. “Queremos falar de saúde antes da doença aparecer. A nossa esperança média de vida é alta, mas a carga de doença a partir dos 55 anos é enorme. “Com esta carga de doença nenhum sistema de saúde é sustentável”

Neste sentido, defendeu políticas públicas sérias e transversais, que envolvam todos os atores relevantes. “Precisamos de pensar global e agir local. A saúde não é apenas cuidados hospitalares.”.

Medir resultados e garantir continuidade política

A dirigente do Fórum Saúde XXI sublinhou ainda a necessidade de medir o impacto das políticas implementadas, considerando que “Portugal é eficaz a diagnosticar problemas, mas falha na monitorização das soluções”. Para Andrea Lima, é fundamental criar um pacto político alargado, envolvendo partidos do governo e da oposição, que assegure a continuidade das políticas de saúde para além das legislaturas. “As ações avulsas fazem manchetes, mas não mudam o sistema”.

“O SNS precisa de robustez e atratividade”

A escassez de profissionais de saúde foi outro tema abordado. Andrea Lima reconheceu que se trata de um problema mundial, mas defendeu que Portugal precisa de tornar o SNS mais atrativo para os seus profissionais. “Se o serviço público estiver desorganizado, sem liderança, é natural que os profissionais procurem melhores condições, cá dentro ou no estrangeiro”.

Como exemplo, partilhou o caso da sua filha, médica, que já recebe convites constantes para trabalhar fora do país. “Ela só sairá se não tiver condições para trabalhar com dignidade em Portugal. E isso depende das reformas estruturais que conseguirmos implementar”.

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